sexta-feira, 23 de abril de 2010

Psicose - Alucinações e Delírios, segundo (Coutinho, 2005)

A psicose se inicia, respeitando a teorização freudiana sobre a doença, pela perda do referencial narcísico do indivíduo, embora os mecanismos hipotéticos pelos quais isto ocorre não sejam necessariamente objeto de consenso entre Psiquiatria e Psicanálise. Essa ruptura do equilíbrio psíquico é vivida pelo paciente com intensos sentimentos de angústia e ansiedade, constituindo a fase que antecede os delírios denominada “humor delirante”. O quadro clínico subseqüente, que varia conforme o tipo de psicose particular, pode incluir as manifestações relacionadas à consciência do Eu (fragmentação corporal), à sensopercepção (alucinações), ao pensamento (delírios) e à linguagem (neologismos).

É do confronto entre os conceitos de compreensão (causalidade interna, representação intuitiva, relações de sentido não-causais, com vistas ao psíquico) e de explicação (causalidade externa, apreensão objetiva, relações de sentido e leis causais, visa o corporal), no âmbito da Psicopatologia, que talvez provenha a raiz do conflito entre Psiquiatria e Psicanálise no que tange ao tratamento das psicoses. A compreensão do delírio através de sua escuta, independentemente de se poder explicá-lo, seria o fundamento da abordagem psicanalítica das psicoses, estratégia que não é aceita como terapêutica na visão psiquiátrica tradicional.

Para a Psiquiatria, os psicofármacos são parte indispensável do tratamento das psicoses desde a fase inicial de “humor delirante”, quando o uso exclusivo de ansiolíticos para sedar o paciente não é geralmente suficiente para aliviá-lo de seu intenso sofrimento psíquico. Os neurolépticos, embora por mecanismos ainda não bem definidos, atuam bem já nesta fase, mesmo que os delírios não estejam ainda presentes. Os “antipsicóticos de última geração” são eficazes no alívio sintomático do paciente, reduzindo os delírios, aumentando a atenção e melhorando o seu rendimento intelectual, com poucos dos efeitos colaterais comuns com o uso do haloperidol, o neuroléptico clássico. A alegação de que a abolição completa do delírio produziria um estado de “depressão vazia”, improdutivo para qualquer trabalho psicoterapêutico, não procede na opinião da maioria dos psiquiatras.

Apesar da a Psiquiatria fundamentar o tratamento das psicoses no uso de psicofármacos, a interdisciplinaridade com outras áreas de saber é reconhecida por ela como fator crucial na abordagem adequada do paciente e de sua família. Neste sentido, seria teoricamente aceita pelos psiquiatras menos ortodoxos a escuta psicanalítica na paranóia e, talvez, também na esquizofrenia paranóide, respeitando-se o conceito freudiano de ser o delírio uma tentativa de cura por parte do psicótico.

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